segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Comparando os irmãos chineses...


No dia 28 de julho, eu e outros amigos fomos convidados para uma visitação aos novos trens do MetrôRio, coincidentemente caindo uma semana depois do  meu post acerca das polêmicas que os novos trens levantaram na imprensa. Por falta de tempo e organização não deu para fazer o post anteriormente. Mas, ao invés de fazer somente um post com fotos somente dedicadas ao novo trem do Metrô, farei um comparativo com o "parente" que já roda há alguns meses na Supervia.Para começar, o óbvio, que eles são absolutamente distintos não há como negar. Mas nem por isso são "incomparáveis". 


Design marcante, potencial para serem uma nova marca visual do Metrô do Rio, junto aos Mafersas.


 Um Metrô que tem como sua "marca registrada" de anos a frente de pára-brisa bi-partido do Mafersa com certeza ganhou um trem de design a altura para se tornar um novo ícone do sistema. Os detalhes em preto na pintura ajudaram a deixar o novo trem do Metrô com um visual mais bonito e chamativo.A semelhança com uma "salamandra" é positiva, e o conjunto de tail lights(luzes de cauda)e faróis remetem a outras unidades fabricadas pela CNR para sistemas ferroviários asiáticos.

Chamativos, os trens chineses da Supervia não passam despercebidos. 


Na Supervia, os 3000 ganharam popularidade entre os usuários do sistema.Simplesmente sendo chamados de "chineses" ou "trem novo", apresentam design único, que afirma ainda mais a novidade. A cor azul na máscara chama a atenção, junto com as tail lights que dão a impressão do trem ter um "bigode" vermelho. Uma coisa é certa: Em matéria de design externo, ambos são inovadores perante aos trens que operam nos dois sistemas.

Interior - Salão de passageiros


 Interior da unidade 3007 da Supervia
Internamente, os dois tomam rumos bem distintos. Os novos trens da Supervia tentam transmitir comodidade na viagem para compensar os seus 2.9m de largura, ao contrário dos 3.2m de largura dos trens coreanos.No entanto o usuário não deve sentir diferença: andar nos trens chineses é como se acomodar num Série 1000. Para isso, a Supervia retorna o uso dos bagageiros, de modo a convencer os usuários que viajam em pé façam o uso do mesmo, liberando mais espaço para circulação e tornando melhor a acomodação dos passageiros. Além disso, perde-se a barra de ferro no espaço entre as portas, melhorando o embarque e desembarque, já que usuários se concentram no espaço entre as portas e não se espalham para o restante do trem, muitas das vezes criando a falsa impressão de lotação.Porém, para pessoas mais baixas, as barras de ferro no teto ficaram altas, por um lado é incômodo, por outro faz o usuário recorrer aos apoios fixados nos bancos.

Interior da unidade 4007-4008 do Metrô
Comodidade é a palavra-chave dos novos trens do Metrô. Convencidamente largos(nem precisa comentar mais sobre isso), eles repassam isso na configuração longitudinal dos bancos e no amplo espaço livre em pé, que fatalmente faz lembrar do interior de muitos trens da Supervia. Mais espaço em pé requer atenção maior nos apoios, para isso o MetrôRio recorreu a uma solução bem conhecida e prática. Pega-mãos(ou "chupetas" como são popularmente conhecidas) foram adotados, de modo que os usuários tenham onde segurar durante a viagem. O toque asiático ficou ainda mais evidente, já que sistemas metroviários asiáticos como o de Tóquio sempre adotaram tal solução. Barras de ferro posicionadas ao lado das portas somente servirão para o apoio dos passageiros na hora de desembarque. Com um teto baixo em toda a sua extensão, devido ao sistema de ar-condicionado, o apoio nas barras de ferro e nos pega-mãos é bem mais cômodo. Um ponto favorável.

Gangways - Passagem entre os carros


Gangway dos chineses da Supervia: 
Estilo clássico, sanfona na cor preta que evita o encardimento que teria com cores claras, 
caso ocorrido nos trens coreanos.

Gangways foram adotados em ambos os trens. Ambos tem configurações semelhantes, com luminárias e apoios laterais, mas o MetrôRio acertou no acabamento e teve uma solução inteligente.Diferente dos trens da Supervia, a fixação do gangway é central, ou seja, essa "sanfona" é existente nas duas extremidades do carro, e são fixadas ao centro. Como a torção diminui, isso abriu a possibilidade de se colocar um revestimento protegendo a "sanfona" por dentro do gangway.

Gangway dos novos trens do Metrô: fixação central conectando a sanfona dos dois carros.
Internamente, sanfona protegida por um revestimento lateral. 


Comunicação visual


Mesmo com aviso luminoso e sonoro, avisos escritos foram criados para alertar os reais riscos de se colocar as mãos nas portas durante abertura ou fechamento.

Mapa das estações da Supervia: Atualizado e simples, apenas com proteção plástica.

 Numeração dos carros nas extremidades: 
Próximas as telas de LCD e aos indicadores de destino, facilmente localizáveis.


Em matéria de comunicação visual, ambos atendem bem as necessidades e comportamentos dos usuários que são transportados nesses trens. A Supervia apresenta mapas atualizados e avisos preventivos bem úteis. Com aviso sonoro e luminoso para abertura e fechamento de portas, no entanto, não conseguiu evitar acidentes com relação a usuários se ferindo ao apoiar a mão nas portas durante sua abertura, requerindo colocação de novos avisos para informar sobre o risco. A numeração das unidades é simples, seguindo o padrão 30XX-33XX-32XX-31XX, e dentro dos carros se localizam acima das telas de LCD, localizadas nas extremidades dos carros. Instalados no teto, os painéis de aviso são bem configurados e visíveis. 


 Tela de LCD e indicador de destino dos trens do Metrô: 
Bom acabamento, se complementando com o visual interno do trem.


Detalhes do painel dinâmico de estações.


Adesivos nas portas: Uma campanha válida que deveria ser adotada pela Supervia.

O Metrô Rio fez uma comunicação visual bem informativa, dinâmica e entendível. Para começar, o painel dinâmico das estações foi uma decisão bem acertada, e em conjunto com os avisos sonoros e pelos paineis de aviso deverão deixar os usuários amplamente informados do trajeto percorrido e a ser percorrido dos novos trens. Os painéis de aviso, assim como as telas de LCD, ficam junto as sancas do carro. A numeração feita para diferenciar dos outros  carros da frota no entanto é confusa, no padrão 40XX-60XX-50XX-50XX-60XX-40XX, e fica mais ainda com a numeração colocada dentro dos carros. Um usuário não pode entender(e com certeza não entenderá) de cara que, ao ver um adesivo 4007F numa ponta do carro e 4007R na outra ponta, entenda que o F e o R significam "Front" e "Rear" do carro, a frente e a traseira.  Mas chama mais a atenção e é mais visível que a dos 3000 da Supervia.


 Adesivos de numeração dos carros do Metrô: Se guie somente pelo número. 

Espaço para Cadeirantes


Espaço destinado a cadeirantes na Série 3000: Mal localizado.

Com relação aos usuários com necessidades especiais, não dá pra comparar o feito pelo Metrô pelo que a Supervia aplicou nos seus trens. Enquanto nos Séries 3000 o espaço para cadeirantes se limita a um quadrado amarelo na ponta das unidades com uma barra de ferro para apoio, o MetrôRio colocou amplo espaço para cadeirantes nas extremidades dos carros junto aos gangways, e perto das "janelinhas". Claro que, na ausência destes, os novos carros do Metrô acomodarão mais passageiros em pé nestes locais. 

 Espaço destinado a cadeirantes no novo trem do Metrô: Um espaço de fato.

Assentos Preferenciais


 Assentos preferenciais nos novos trens da Supervia: Cor chamativa e boa localização.

Nos assentos preferenciais, onde o senso comum era que um deveria pouco ligar e outro dar atenção especial, aconteceu o contrário. A Supervia diferenciou-se dos trens coreanos, onde os três assentos longitudinais nas nas extremidades dos carros indicados por um simples adesivo representavam os assentos preferenciais. Com 8 assentos na coloração lilás, eles ficam juntos aos bancos em L, mais acessíveis e cômodos.Nos novos carros do MetrôRio porém, a demarcação dos assentos preferenciais é vaga, se limitando somente a um adesivo na janela próximo ao assento. Por serem assentos longitudinais e sem estofamento, poderá haver problemas e discussões entre os (exigentes) usuários idosos do Metrô com relação a essa regra. O funcionário do MetrôRio que organizou a visita/exposição dos novos carros no entanto afirmou que caso seja vista a necessidade e a solicitação dos usuários pela demarcação do assento preferencial por meio da pintura dos bancos preferenciais ela será feita.


Assento preferencial nos chineses do Metrô:
Vago adesivo na janela faz a indicação, e pode vir a causar dor de cabeça em muita gente...

Equipamentos de Segurança

Intercomunicador de emergência dos novos trens do Metrô: 
Mais explicativo, complementando-se com os procedimentos de evacuação de um trem na via.

Em matéria de segurança, ambas as unidades vem com intercomunicador de emergência entre cabine/condutor e salão de passageiros. No entanto, o "how to do" do MetrôRio é mais claro e informativo que o da Supervia. Assim como os adesivos de como proceder em caso da necessidade de evacuar a via, onde no caso da Supervia são muito vagos e dão margem ao desespero e aos atos desesperados dos usuários nas avarias dos trens, quando saem esbaforidos para a linha sem o auxílio de ninguém até a estação mais próxima. 

Intercomunicadores de emergência da Supervia: Simples e quase imperceptíveis. 

Ar - Condicionado

Equipamento de ar-condicionado dos trens da Supervia: Grandes e potentes.

Não há muito o que dizer: ambos tem ar-condicionado eficientes(no popular: gelaaando!), que não deverão deixar os seus usuários insatisfeitos. Porém, cabe ressaltar: o controle e regulação da temperatura e seu funcionamento cabe ao maquinista da unidade. Ou seja, caso o AC esteja fraco ou inoperante, contate o condutor da unidade, pelos intercomunicadores de emergência ou indo até a cabine líder.

Equipamentos de ar-condicionado dos novos trens do Metrô: 
Finalmente adequados as características da Linha 2, em superfície.

Cameras de vigilância

Câmera no carro do novo trem do Metrô: Olhar que traz segurança.

São trens altamente monitorados, tanto pelo condutor como a possibilidade de serem monitorados pelo CCO.Em ambos os trens, são duas câmeras por carro, localizadas no teto das unidades. No caso da Supervia, são 14 câmeras ao total: 4 câmeras que fazem a função de "retrovisor" dos trens, vigiando o procedimento de embarque e desembarque, 2 câmeras localizadas acima do letreiro frontal visualizando a linha, e 8 cameras no salão de passageiros da unidade. No Metrô, são 16: 12 câmeras no salão de passageiros da unidade e 4 nas cabines de condução, duas câmeras voltadas a linha e duas que visualizam o painel de condução da unidade. 

Câmeras nos novos trens da Supervia: Discretas, são "pau para toda obra".

A conclusão que podemos adquirir deste "comparativo" é de que, apesar de terem suas diferenças estéticas e funcionais, os novos trens tem a mesma função: tornar o sistema mais confortável, aumentar a oferta de trens e dinamizar a operação. Dar status de "metrô" a quem sempre foi um "trem" e melhorar o sistema de um "metrô" que vem ganhando críticas até então exclusivas aos "trens". Não existe, e não deveria existir, segregação entre "trem" e "metrô": ambos juntos formam uma grande rede ferroviária na qual só tem diferenças relativas ao sistema de alimentação dos trens e a concepção das estações e do gabarito das unidades. Problemas sociais de um país onde a concepção metroviária foi tardia e popularmente segregada por autoridades e pela população, leigamente criando a barreira entre "trens" e "metrô", onde um sempre indicou atraso, e ao outro, o status de modernidade e solução. Os trens da CNR(assim como, no caso de SP, os trens espanhóis da CAF)demonstram acima de tudo que eles são mais iguais que a gente imagina, não por saírem da mesma planta industrial, mas por terem os mesmos propósitos em prol do progresso e melhoria da mobilidade urbana sobre trilhos.

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