quarta-feira, 25 de julho de 2012

OFFTopic (1) : Virais de Facebook



O Facebook é uma ótima ferramenta, na medida do possível, na sua função de rede social. Reúne pessoas, formam-se grupos, idéias são discutidas e repassadas, além de muitas páginas e usuários bem humorados. De uns dias para cá, o "viral" (moda do momento) do Facebook é um quadro comparando redes de transportes  no mundo, onde as redes de Metrô de Londres, Paris e Nova Iorque eram comparadas com a do Rio de Janeiro.

Foto original, com alteração minha para representar o "Y" do MetrôRio. 

No entanto, outras montagens passaram a ser feitas. E uma delas claro envolvia o Metrô de São Paulo. Achei injusta a comparação feita, principalmente pelo transporte ferroviário bem organizado que a metrópole paulistana oferece. Claro, ainda não atende totalmente a todas as necessidades dos paulistas, muita coisa tem que ser melhorada e muita linha de Metrô tem que sair do papel, mas é a melhor rede ferroviária existente no Brasil. 

Imagem do Facebook comparando os sistemas de "Metrô" com o sistema gerido pela CMSP, enquanto que nas redes de Paris adicionaram até as linhas do sistema de VLT.

Para isso, aqui reproduzo um texto do amigo de hobby Caio César Ortega. Paulistano e conhecedor da realidade ferroviária de São Paulo, fez uma resposta muito convincente a um usuário no meio dessa discussão acerca do transporte metroviário de São Paulo, que neste período de eleições para prefeituras se tornou uma "arma" para a "oposição partidária" conseguir votos em cima de promessas, das quais muitas não serão cumpridas, e claro repercute nas redes sociais perante a população que ainda tem idéias e conceitos defasados sobre o sistema ferroviário em geral.


" Não trabalho e nunca trabalhei, seja no Metrô ou na CPTM.[...] Converse com engenheiros, leia livros, participe de fóruns... o conhecimento está espalhado por inúmeros lugares. Não se trata de acreditar em propaganda política, até porque, elas são falhas, imprecisas e não há qualquer preocupação técnica.

 A CPTM herdou um sistema ferroviário centenário, unificando as empresas CBTU (que era ligada à RFFSA) e Fepasa. A Fepasa já promovia, desde a década de 70, a transformação dos sistemas suburbanos da Sorocabana (que tinham características comutadoras que foram perdidas, como trens com cortinas e banheiros), de maneira que as linhas Oeste e Sul, hoje 8 e 9, já tinham muito em comum com sistemas de metrô implantados em outros lugares do mundo. As linhas da CBTU, contudo, eram um caso delicado, não comportavam a brutal demanda, mesmo com os trens comprados na década de 80 e com estações reconstruídas, sendo que o contraste só aumentou com a inauguração da Linha 3 do Metrô, que é, apesar de muitos não reconhecerem, tão suburbana quanto a Linha 11 da CPTM.

Novos trens feitos pela CAF na estação reformada de Itapevi(8-Diamante) da CPTM. 

A CPTM opera um sistema com trens elétricos, geralmente de 8 carros (com unidades de 6 carros nas linhas 7, 11 e 12 e de 12 carros na Linha 8), quando 8 carros são utilizados, a motorização tem uma taxa de 50% (1 carro motor+1 carro reboque, até completar a composição). A alimentação via catenária não a desclassifica, uma vez que as linhas 4 (construída pela Via Amarela) e 5 (construída pela CPTM) também utilizam o mesmo sistema de alimentação, bem como os sistemas de metrô do Recife, de Belo Horizonte e de Porto Alegre. Os mais de 100 km dentro da capital, a redução nos intervalos, a maior sofisticação dos sistemas de sinalização implantados com a modernização, a inovação promovida pelos primeiros trens com ar condicionado a operarem em São Paulo (e muito antes do Metrô), a requalificação e reforma da Estação da Luz, a dinamização da Linha 9 e a renovação da frota, que ainda continua , marcam o cenário da CPTM de forma mais do que positiva.

7000 em Estudantes, a serviço do Expresso Leste. 

Em Chicago, como falei, as estações centenárias são mais simplórias do que uma Itapevi, que foi modernizada, ficando no nível de muitas estações da CPTM que estão instaladas no subúrbio ; São Miguel Paulista, no extremo leste da capital, com a diferença de que em Chicago, você encontra estações assim nas linhas mais antigas em virtualmente qualquer lugar e, vale lembrar, a modernização não está fazendo nada faraônico, como é comum ver aqui em São Paulo.

Metrô de Chicago

Nova Iorque tem estações velhas, trens antigos e ninguém diz nada, o sistema deles herda características que nós nem sonhamos em termos aqui, talvez pela mentalidade tacanha. Você tem troncos diversos e uma mesma plataforma pode atender a diferentes destinos, além disso, o sistema de sinalização não é, nem em sonho, tão automatizado quanto o nosso. Olhe aqui e me diga, não parece metrô com estamos acostumados, não é? Mas é metrô, é o tão badalado Metrô de Nova Iorque.


Em Nova Iorque, aliás, todo o sistema de transporte coletivo é gerido por uma única empresa, vale ressaltar. Se você assistir à primeira parte de um documentário da Discovery sobre o Metrô de Nova Iorque, verá como ele estava na década de 80, notará, também, que a rede foi reduzida em mais de 50%. O sistema de Metrô de Paris tem composições muito mais leves (e com pneus!!!) e ninguém diz nada (nosso sistema de metrô é muito mais "pesado").

Acima, Metrô de Nova Iorque nos anos 80 e 90. Abaixo, o interessante sistema de Metrô de Paris, com seus metrôs "com pneus".


Enfim, os casos são inúmeros. O problema da CPTM é muito simples: ela utiliza um logotipo com as letras C e P estilizadas, na forma de setas opostas, mas não carrega o nome Metrô (abreviação de Companhia do Metropolitano de São Paulo) e não tem uma seta azul de duas pontas. Ou seja, a maioria não sabe o que é o quê, apenas diz que é metrô quando o Metrô opera e chama de trem quando a CPTM opera, mesmo com o irônico fato de que ambos os sistemas utilizam trens... mas aqui em São Paulo as pessoas buscam a segregação social contínua e injustificável de quem "pega trem", como se o Metrô utilizasse discos voadores. "


Sem mais o que falar, fica a mensagem, inclusive válida ao Rio de Janeiro, na eterna questão entre o ramal Belford Roxo e a Linha 2 do MetrôRio. O fato é que julgamos bastante o transporte ferroviário por nome, onde o simples nome "Metrô" dá status e significa um transporte eficiente, ao mesmo tempo que "Trem" significa algo ultrapassado, lotado e ineficiente.

Mal sabem que o Metrô tem trem, e o trem é Metrô.

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