sexta-feira, 18 de maio de 2012

Não é mole andar no famoso 33...

Embarque de passageiros num trem para Japeri, no Engenho de Dentro.
A maior demanda do sistema da Supervia.

O ramal de Japeri é o que possui a maior demanda do sistema da Supervia. Sendo o mais longo do sistema, atende 6 municípios ao longo de mais de 62km de extensão.Com todos esses dados, o que poderíamos imaginar para o Japeri é uma operação exemplar, intervalos regulares e trens confiáveis. O que não acontece.

No ramal estão sempre unidades de 9 e 8 carros. Dentre as unidades de 9 carros, grande maioria são Séries 400, contando com 2 Séries 1000 adaptados para essa configuração e 2 Séries 500 acoplados(uma unidade de 5 carros acoplada a uma unidade de 4 carros). O resto é uma frota variada, de acordo com o que é remanejado para lá.Como todos sabemos, os Séries 400 e 1000 estão para serem aposentados devido a idade útil excedida e por sua característica de carros com aço carbono que impossibilita uma reforma para colocação de ar-condicionado. A manutenção deles começa a deixar a desejar, são os trens que menos avariam, mas mais por necessidade de frota - é bem normal o isolamento de avarias nestas unidades para que elas possam servir ao pico - do que por excelência na manutenção, a qual todos sabemos como é.


Unidade 496 em Ricardo de Albuquerque. Séries 400 são quase como a "frota fixa" do ramal.
E estão com os dias contados. 

Contando com isso, ainda podemos dar de cara com imprevistos nas outras séries. Pelo menos uma vez no horário de pico, um 500, 700 ou 900 empaca na plataforma 3 de Deodoro para vistoria. O povo começa a ficar impaciente, com menos de 5 minutos parado começa-se a ouvir gritos e piadinhas dos usuários na estação, quando anunciada a vistoria da unidade no aúdio da estação, sempre alguém grita que "avariou".

Série 1000: Produzidos em 1954, originalmente Séries 200, foram reformados em 1993. Com mais de 50 anos de operação, já passa da hora a sua aposentadoria. Apesar desse visual, as aparências enganam.

Sem contar o que vem depois: alguém passa mal em um dos carros. Aparece o segurança - isso se ele aparecer - para abanar a pessoa do lado de fora do trem, quando o povo não faz ela sentar no trem - sim, tem casos que a pessoa vem passando mal em pé e só depois quando alguém repara o estado da pessoa ou a própria pessoa fala cedem gentilmente o lugar para a mesma. As pessoas vão ficando nervosas, os que acham que na base da pedrada e do grito no trem vai resolver algo para o sistema começam a se manifestar, e se não aparecer um trem rápido...

É aquilo: Não pode deixar o Japeri avariar no pico, de jeito nenhum. O que acontece no Japeri é, em larga escala, o que acontece num sistema inteiro. Um trem avaria, aparece um no lugar - se aparecer um trem depois disso - que vai ficar cheio ao receber os passageiros da unidade avariada, o povo se irrita e desconta no trem, no mobiliário da estação... 


Interrupção dos serviços paradores por conta da confusão criada por "protestantes" que se recusaram a sair dos trilhos após avaria de unidade, queima de materiais da estação de Oswaldo Cruz... 
Não vejo o título da matéria com ironia, mas como a veracidade dos fatos, sem esquecer a manutenção duvidosa dos trens da Supervia que causa essas avarias. 

Isso é o resultado de uma série de problemas que não vem da Supervia, mas que vem de anos, desde os anos 70 isso vem acontecendo e pouco mudou. A frota do Japeri ficou razoavelmente melhor quando a Supervia assumiu, em comparação ao período decadente dos anos 90. O trem com ar-condicionado que lá roda faz um tempinho é mero paliativo. Mero paliativo pois o problema do Japeri e da Supervia como um todo tem um nome: Frota deficitária.

São aproximadamente 160 trens. Como todos sabem, os 49 Séries 400 e 1000 serão aposentados. Esses 30 chineses não darão conta da substituição das duas séries. De fato, essa série será descontinuada de vez quando começar a chegar os 60 trens da licitãção mais recente, que caminha para nova vitória da CNR.Resumindo: todas as compras prometidas não representarão um grande acréscimo de frota. Perante a frota atual sim, haverá significativa melhora. Mas diante da presença de 256 trens no ano de 1984, que (mal) levavam 1 milhão de passageiros por dia, é ainda pouco. Principalmente para o Japeri.

3014, uma das 34 unidades chinesas compradas para a Supervia, e sucessores dos 400 e 1000.

Por incrível que possa parecer, o Japeri é a "preferência" da Supervia. Se faltar trem no Japeri, ela vai tirar trem de 8 carros do Saracuruna, do Santa Cruz ou do que for pra repor. Um intervalo mais grandinho vai sem dúvida representar confusão, um trem muito cheio será certeza para a presença dos empata-portas, que em maioria das vezes são rapazes que querem tirar onda e no final das contas, quando reprimidos ou algo pior acontece com eles, a justificativa será "o trem estava cheio e só tinha como viajar na porta".

A nova sinalização vai representar sem dúvida uma promessa de melhoria ao ramal. A automatização destes sistemas permitirá maior segurança na viagem e a diminuição segura dos intervalos. O aumento de frota principalmente dará mais viagens e oferecerá aos poucos maior comodidade aos usuários. Só resta saber se os "usuários" respeitarão os trens e estações quando as melhorias vierem. Aí será assunto para o próximo post. Até logo. 

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