A história dos trens japoneses se deu início no ano de 1975.Como de costume,os subúrbios da Central do Brasil convivendo com sucessivos atrasos e acidentes fatais ou não.Com os mesmos e velhos problemas de sempre,o povo estava descontente,assim tornando-se comuns o vandalismo e o quebra-quebra nas estações...No mês de julho de 1975,nas primeiras duas semanas ocorreram três casos de quebra-quebra nas estações,em consequência dos atrasos frequentes e superlotação nos carros.Os passageiros passaram a responder o descaso com mais violência,destruindo as estações e queimando os carros.
A situação estava tão crítica que as vezes nem a Polícia conseguia resolver:
''Às 3:30 da madrugada de quarta-feira da semana passada,uma rede de 40.000 volts caiu sobre uma composição estacionada em Bento Ribeiro,obstruindo o ramal.Obrigados a utilizar a linha Auxiliar,os trens passaram a circular em baixa velocidade e com atraso.Às 6:30,na estação de Tomás Coelho,superlotada em seus 300 metros quadrados,começou o primeiro quebra-quebra.O chefe da estação,Jorge Gonçalves da Cunha,chamou uma rádio-patrulha e tentou retirar os pingentes do trêm.Foi afastado a socos e pontapés ,e obrigado a assistir tudo do lado de fora,na companhia dos policias que também fugiram.A estação,a rádio-patrulha,os arquivos e os vagões da Central passaram a ser depredados e incendiados até as 7 horas,quando a tiros de metralhadoras e revólveres para o alto,soldados da PM conseguiram dominar a situação e permitir o trabalho dos Bombeiros.
No dia seguinte,enquanto os técnicos do setor de investigações trabalhavam na avaliação dos danos em Tomás Coelho,chegou a RFFSA a notícia de que dez trens haviam sido quebrados por populares no ramal de Japeri,o recordista neste tipo de incidentes.Por tres horas e vinte minutos o movimento ferroviário foi interrompido,provocando reações violentas dos passageiros nas estações de Deodoro,Magno e Madureira.''
Revista Veja,16 de julho de 1975,página 25.
O próprio ministro dos transportes,general Dirceu Araújo de Nogueira,admitia a incopetência da Rede,nesta frase:''São homens dignos e trabalhadores que se vêem prejudicados pela RFFSA,quarenta anos atrasada no transporte de massas nos grandes centros.'',logo após os incidentes relatados acima.
A maior tragédia sem dúvida aconteceu no dia 16 de julho.de 1975.O trêm de prefixo UM-59 descarillou cem metros antes da estação de Magno.Três carros da composição foram jogados dentro da quadra da Império Serrano na realização de uma curva que deveria ser feita a 10 km/h(!!) por defeitos no traçado,porém o maquinista tentou realizá-la a 60 km/h.O saldo:14 mortos e 376 feridos,muitos mutilados...
O descaso e a forma como o assunto era tratado na Rede causou irritação em Ernesto Geisel,que após uma reunião na sede da RFFSA declarou:''Eu quero resultados imediatos,o povo quer resultados imediatos.'',cortando a explanação de soluções dentro de 30 meses que Milton Gonçalves,presidente da RFFSA,vinha declarando nas semanas anteriores ao do acidente.Nomeia Carlos Aloysio Weber para executar um plano emergencial de revitalização na Rede Ferroviária,que inicialmente aumentava a linha de financiamento a Rede no BNDES e pedia para que as indústrias ferroviárias nacionais acelerarem o processo de produção.
Surgia assim,no ano de 1977,30 novos trens fabricados pela Hitachi-Nippon Sharyo,a Série 500.Eram os primeiros trens cariocas a contar com caixa de aço inoxidável no Rio de Janeiro.Contavam com passagem entre os carros(gangway),bagageiros,''chupetas'' e pega-mãos.A série foi a vitrine do início do processo de modernização e revitalização das ferrovias cariocas.
Acima,um anúncio publicado na Revista Ferroviária em 1977 sobre a chegada dos trens japoneses,ressaltando suas características técnicas.Abaixo o desembarque no Porto do Rio de Janeiro
Plaqueta do consórcio construtor da Série 500
Foram especialmente concebidos para o sistema de trens cariocas:os engenheiros japoneses do consórcio Hitachi-Nippon vieram ao Rio de Janeiro estudar cada característica das linhas de trens de subúrbio carioca para o desenvolvimento desta Série.Inclusive veio com os carros desta série um ''kit conforto'' que incluía bancos estofados e equipamentos de ar-condicionado.Eles nunca foram aplicados e com certeza apodreceram em algum canto...
De cima para baixo:Carro E 1502,Série 500 em Deodoro e por último,na Central do Brasil ,com muitas marcas de pedradas...
TUE da Série 500 nas cores da Flumitrens.
Durante 1998 e 2000 os trens desta série foram revitalizados pelo consórcio MPE-CCC.Perderam as ''chupetas'' e muitos ganharam a colorida pintura da SuperVia.E três TUEs desta série ganharam mais um carro,tendo a formação básica de 5 carros ao invés de 4 carros.Atualmente rodam engatados com trens de 4 carros e fazem serviço no ramal de Japeri,onde podem atuar trens de 9 carros.
Fotos da unidade 509,uma das três unidades que receberam o 5° carro.As outras duas unidades foram a 511 e a 526.
Fotos da frente e do interior do TUE 502.
Os carros da Série 500 tem uma caixa além de forte(o recente descarillamento de Deodoro e o trágico acidente de Austin comprovam isto),um tanto quanto versátil.Recentemente,a SuperVia fez uma modificação um tanto quanto curiosa:Três carros da série 500 baixados foram modificados e se tornaram um trem socorro da Rede Aérea,o TS-1.Já outro carro também foi modificado e se tornou um ''Trêm-escola'',um projeto da ETE de Transportes Silva Freire,que dispõe de computadores e ar-condicionado,onde está estacionado numa via em Nilópolis.Particularmente eu nunca vi esse escola funcionando ou aberta...
Acima,o Série 500 modificado para ser o TS-1 da SuperVia.
A primeira foto,de autoria minha,é do carro-motor da S500 em Deodoro,antes de ganhar a adesivagem,e acima Sérgio Cabral na inauguração do Trêm-Escola.
Os japoneses não tem nenhuma unidade até agora modernizada com sistema de AC,espera-se que até a Copa de 2014 os trens dessa Série sejam modernizados.Muitas especulações até agora ocorreram mas nada de concreto.Recentemente a unidade 506 sofreu intervenções pela Vicoufer,é a única unidade que ainda tem as chupetas,deixando-a um pouco mais próximo de como ela era originalmente,tirando o fato da retirada dos gangways.
Fotos da unidade 506,revitalizada em agosto de 2009.
Enquanto as reformas não vem,os 500 rodam firmes e fortes nos trilhos da SuperVia,ganhando muitos admiradores por onde passa... =)
2 comentários:
Realmente essa série merece destaque. exeção da 700 os outros que vieram depois ficam no chinelo, ninguem vai aguentar o que esse trem aguentou e aguenta até hoje.
Fábio Paixão
Algumas curiosidades:
1- O presidente Geisel demitiu o então chefe da RFFSA/DES (divisão Especial de Suburbios) após uma declaração à reista Veja de que "trabalhador não pega trem, vai de ônibus por que tem horário". e seu lugar entrou o Cel. Webber engeheiro militar do exército que perdeu um filho durante a execução de obras na amazõnia.
2- Até mesmo o exército teve dificuldadws em segurar as rebeliões populares nos suburbios, em 75 6 trens foram destruídos em D.pedro II embaixo do nariz da presid~encia da rede, ao lado do palácio duque de caxias então sede do primeiro exército.
Os soldados que patrulhavam a estação se recusavam a atirar nos rebelados.
3- o kit confordo dos "cara de lata" provavelmente virou peça de reposição dos trens série 600 da marfesa que operaram no subúrbio da leopoldina esta época, os mesmos tinham bancosa estofados e outros mimos vindos de fábrica.
4- O TUE que recebeu intervenção da vicoufer se não me engano era um dos que estava em Austin.
5- os TUEs série 500 possuem uma versão modernizada no subúrbio de porto Alegre fabricados pela Kawasaki-hitachi em 1984.
Mais um pouco sobre os TUEs do subúrbio:
http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6150097727427422059#editor/target=post;postID=1909787825653166879
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